FAMÍLIA - A ARTE DE CONVIVER
- Helena Pompeu de Toledo Sampaio CRP 06/127834
- 3 de jul. de 2018
- 4 min de leitura

TEXTO 1
Breve histórico e definição de família
Sempre quando pensamos em família vamos procurar uma definição que nos seja conhecida, que nos sirva de modelo, de referencia. Na maioria das vezes pensamos na família nuclear, formada de pai, mãe, filhos e as vezes de avós ou tios que moram numa mesma casa. Entende-se, por tanto, por família nuclear o grupo social onde as relações interpessoais são de natureza primária. Mas precisamos nos lembrar que este modelo familiar tem esta conformação em um tempo mais ou menos recente, surgiu em meados do século XIX. Para os Romanos, e para os Gregos da antiguidade, a noção de família era muito mais abrangente do que qualquer dos modelos contemporâneos. O chefe de família, o déspota, acumulava as funções de chefe de estado, de sacerdote, e muitas vezes de chefe militar. Família incluía todos os antepassados, os parentes do pai e da mãe, a descendência legítima e ilegítima, as concubinas, os escravos, as propriedades, as terras e os animais.
Com o passar do tempo foi havendo a separação entre as figuras do chefe de estado, do chefe religioso e do militar, limitando a abrangência da família. A palavra família possui um significado que foge à ideia que temos de tal instituto hoje, vem do latim famulus e significa grupo de escravos ou servos pertencentes ao mesmo patrão. Quantos de nós muitas vezes nos sentimos “escravizados” pelas nossas famílias. Tema este para um próximo texto, onde poderemos abordar as questões de violência na família.
“A palavra “família”, de raiz osca, foi utilizada em sua origem para denotar exclusivamente os serviçais. Por volta do século XV, seu significado se ampliou, abarcando todos os membros da casa, tanto servos como mulheres cativas e a descendência engendrada pelo chefe de família. O vínculo mais importante desta família medieval era um acordo tácito de proteção e lealdade mútuas...Esse acordo recíproco se tornou mais estável à medida que o tempo foi transcorrendo, e o uso do termo evoluiu progressivamente até os contratos familiares que hoje conhecemos”. (C Sluzki, 1997). Veja esta é uma definição que já pertence ao século passado XX, de lá para cá, quantas mudanças já observamos na instituição família.
“A família moderna nasce da Revolução Industrial, com seus padrões de excelência que vigoraram da segunda metade do sec. XIX até o século XX. Aquela família nuclear, de pais, mães e filhos convivendo na mesma casa, correspondia aos patamares da sociedade que se industrializava e se especializava. É bom lembrar que, no passado, (e no presente) existiram outros conceitos de família, outras organizações, outros ideais funcionando sempre em coerência com os valores dominantes na cultura de cada momento histórico. (G. Brun,1999)”.
A industrialização, a urbanização, a migração para as cidades, o acesso da mulher ao estudo e ao mercado de trabalho, o controle de natalidade, as mudanças morais, as novas tecnologias de reprodução, a lei do divórcio, o novo código civil, que equipara homens e mulheres do ponto de vista jurídico, são ingredientes que ajudaram e ajudam a criar um panorama em constante mudança.
Convivemos hoje com série de novas organizações familiares: mulheres que criam seus filhos sem nunca terem se casado, famílias uniparentais surgidas após uma separação, famílias compostas à partir de novos casamentos de cônjuges com filhos de casamentos anteriores, filhos de diferentes pais, casamento de pessoas do mesmo sexo. Outro tema para mais um texto, as novas constituições de famílias. Vivemos hoje, neste início de milênio uma nova conformação de família o que muitas vezes para alguns é visto com naturalidade e para outros causa estranheza. Não devemos negar que a multiplicidade e variedade de fatores, de diversas matizes, que não permitem fixar um modelo familiar uniforme, sendo essencial compreender a família de acordo com as necessidades sociais prementes de cada tempo.
A família é o lugar que dá origem a história de cada pessoa, é o espaço de vida privada onde se dão as relações com mais espontaneidade. É um organização social que tem contornos e limites imprecisos e variáveis conforme o tempo histórico, e o contexto, cultural, social e econômico em que se vive. É um recorte dentro da imensa teia de relações das quais fazemos parte e ajudamos a construir. Não podemos esquecer que essas relações muitas vezes são complexas e que permeiam toda nossa vida.
Não é possível deixar de pertencer a uma família, mas algumas pessoas acreditam que a família seja a unidade operacional “do berço ao túmulo”. As organizações familiares refletem a sociedade ao mesmo tempo em que atua na sua formação. As mudanças sócio-políticas nos levam a uma reflexão sobre os padrões adotados para compreender a família.
Impor padrões normais de relacionamentos familiares é tão prejudicial quanto negar que existam algumas características no desenvolvimento das famílias que podem ser observadas nas diferentes constituições familiares. Reconhecer estas fases nos ajuda a compreender melhor as dificuldades enfrentadas pelas famílias e por cada um de seus membros. Precisamos desmistificar as relações familiares.
Neste texto temos alguns aspectos para pensar:
- Como pontuei no texto, muitas vezes em uma família, um membro adota a postura de escravizar o outro, de impor a vontade dele em detrimento do outro.
- Nos faz pensar que, embora venha desde da idade média, o quanto ainda mantemos acordos tácitos de proteção e lealdade. O quanto isto pode sufocar cada membro da família.
- As novas organizações familiares: como é para cada um olhar e aceitar essas novas conformações.
- Para refletirmos: Não é possível deixar de pertencer a uma família, será? Acredito que numa visão mais ampla, não mesmo, pois nascemos em determinada família, isto é dado. Mas quantos por algum motivo desistem de suas famílias...
- Quantas verdades e quantos mitos permeiam nossas relações familiares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Juares Soares Costa Médico, Psiquiatra, Terapeuta Sistêmico, diretor do Instituto de Terapia de Família e Comunidade de Campinas. (Aula dada no curso de Terapia de Família em Campinas São Paulo).
BRUN, Gladys. “Pais e Filhos & Cia. Ilimitada”, Rio de Janeiro: Record, 1999.
SLUZKI, Carlos. “A Rede Social na Prática Sistêmica”, Ed. Casa do Psicólogo: SãoPaulo,1997.

Helena Pompeu de Toledo Sampaio- CRP 06/127834
Psicóloga
Colunista Psiconectado
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